Opinião

Em defesa do Ensino Superior gratuito

Educação pública é o tema da coluna [magis+] desta segunda-feira, 25 de julho

cabecalho_pablo

 

Fruto de sucessivos governos corruptos ou no mínimo coniventes com a corrupção, a crise financeira por que passa o país tem servido de pretexto para o eclodir de inúmeros interesses privados. Em momentos de instabilidade econômica, basta balançar uma moita para que saltem especialistas, aos bandos, com a receita pronta para "reerguer a economia". Receita que, invariavelmente, em vez de atacar o desperdício de dinheiro público, por exemplo, atinge, impiedosamente, conquistas históricas dos trabalhadores, como se o trabalhador, lado mais fraco da corda, fosse o culpado por, acredite, existir. E trabalhar. 

O mais novo capítulo deste ataque a direitos conquistados a duras penas está escrito, em bom português, no editorial de O Globo, publicado ontem, cujo título é estarrecedor: "Crise força o fim do injusto Ensino Superior gratuito." E cuja linha de apoio, "Os alunos de renda mais alta conseguem ocupar a maior parte das vagas nos estabelecimentos públicos, enquanto aos pobres restam as faculdades pagas", irrompe reveladora: quem fala é o mercado. Porque o fim de todo esse pseudo-argumento será apenas um, apenas este: menos vagas públicas, mais privadas. Em outras palavras, mais mercado.

Que as empresas do setor da Educação lutem por mais espaço, é compreensível, perfeitamente compreensível. Que o governo, responsável por zelar pelo que é público, abra espaço para isso, sem reservas, me parece suspeito. Contraditório, até. O acesso à educação pública, gratuita e de qualidade precisa ser olhado como item básico, indispensável para a construção da sociedade, não como um estorvo econômico, porque sempre haverá quem saiba lucrar com ela, como o sabem diversas instituições, muitas delas verdadeiros caça-níqueis, flagrantemente despreocupadas com o ensino que oferecem.

Sustentar, como sustentou o editorial de O Globo, que o Ensino Superior precisa deixar de ser gratuito porque a maior parte dos que dele usufruem é formada por pessoas que poderiam pagar é confundir tudo. É não reconhecer - por falta de competência ou por má intenção - que o centro do problema está justamente no acesso. E tal problema de acesso começa antes, muito antes, do Enem. Começa com a falta de acesso, muitas vezes, a saneamento básico, habitação digna e, infelizmente, comida na mesa. Agrava-se, o tal problema, com o acesso precário aos ensinos fundamental e médio, ambos públicos, ambos também precários. Dá para falar em meritocracia diante de um quadro desses? Poupemo-nos, por favor. 

Há muitas coisas erradas nas universidades federais brasileiras. Há muita coisa errada na Universidade Federal de Pelotas (UFPel), como a falta de infraestrutura adequada em diversos cursos. A gratuidade, no entanto, não é uma delas. Pelo contrário. A gratuidade é a garantia de que, apesar de tudo, por mais difícil que seja para muitos, as portas do Ensino Superior estão abertas. Importa é fazer com que mais pessoas entrem, permaneçam e saiam, enfim formadas, por estas portas. A crise não pode servir de pretexto para fechá-las ainda mais. Permaneçamos atentos.

infopdjofolha020812

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Homenagem ao padroeiro Anterior

Homenagem ao padroeiro

Em defesa do  Ensino Superior gratuito Próximo

Em defesa do Ensino Superior gratuito

Deixe seu comentário